30 dezembro 2013

Crónica publicada no Jornal Lezírias (Coruche)


No início de 2011 aceitei escrever sobre as minhas viagens para o Jornal Lezírias. 
Decidi escrever sobre a aventura que me permitiu, em Agosto de 2002, conhecer a Gâmbia.
Partilho agora aqui essa minha singela colaboração no, entretanto extinto, jornal coruchense.


Jornal Lezírias - Fevereiro de 2011

Estávamos em St. Louis no norte do Senegal e, depois de abortados os planos de seguir para o Mali, os meus companheiros de viagem votaram por dar uns dias de descanso às máquinas e aos corpos nuns simpáticos bungalows junto à praia. Para chegarmos ali já tínhamos feito mais de 3000 quilómetros de jipe desde que saíramos de Coruche, tendo já percorrido de alto a baixo o imenso reino de Marrocos, atravessado a Mauritânia e sulcado o exigente e inóspito Sahara, o deserto dos desertos

Ficar na praia não era o que tinha em mente para aquela viagem e, já que ali estava, considerava que devia aproveitar para conhecer o máximo. Depressa delineei e pus em prática um plano alternativo que passava por ir de transportes públicos até Dakar

Bem cedo na manhã seguinte, na agitada estação de táxis comunitários de St. Louis, ressoavam já umas centenas de carrinhas Peugeot 504 cujos condutores se acotovelavam para angariarem os dez passageiros sem os quais não podem partir.

- Dakar, Dakar! – Gritavam alguns deles.
- A que horas parte? – Perguntei.
- Imediatamente. Só há um lugar! – Respondeu-me o mais afoito.

Acordámos o preço e aí vou eu para o “meu” Peugeot sobrelotado de pessoas e carga. Lá dentro, para minha surpresa, outro passageiro não africano além de mim. Depressa iniciamos conversa e descubro que se trata de um americano de Nova York que está a fazer voluntariado na Gâmbia, o pequeno país encravado no Senegal, para onde regressa depois de ter vindo passar uns dias a St. Louis. Mas antes precisa de parar em Dakar para recolher uma documentação da ONG para quem trabalha. Até Dakar a conversa flui. Conto-lhe como apareço ali, ele explica-me o que o levou à Gâmbia, falamos de Portugal e da América. Falamos de Nova York e das inevitáveis torres gémeas que ele viu cair in loco. Falamos de África e do mundo, do futuro e da história. Já a chegar a Dakar, desafia-me:

-Paulo, porque não vens conhecer a Gâmbia?
-Mas Brian, daqui a dois dias tenho de me encontrar de novo com os meus companheiros aqui no Senegal. Achas que dá tempo?
-Humm, se viajarmos hoje à noite, dá! – Diz-me, sem muitas certezas.

Combinamos o sítio e a hora para nos encontrarmos ao final da tarde. O Brian vai tratar dos assuntos dele e eu faço o meu abreviado tour pela frenética cidade de Dakar. Visito a Praça da Independência, o Museu de Artes Africanas, a Catedral, aprecio o artesanato de rua e assim rapidamente se passa a tarde.

À hora combinada reencontro o Brian e apressamo-nos a encontrar transporte para a fronteira. Viajamos de noite, novamente numa carrinha Peugeot 504 sobrelotada e esta com muitos decibéis a mais. E o condutor não se cansa de colocar no leitor as cassetes com os últimos sucessos da música africana que a maioria dos passageiros parece apreciar.

É neste ritmo, e a distribuir passageiros pelo caminho, que chegamos ao posto fronteiriço do Senegal, já depois da meia-noite mas que afortunadamente até estava aberto àquela hora. Cumprimos as formalidades de saída e a carrinha leva-nos até uns 700 metros mais à frente.

-Fim da viagem! – Anuncia o condutor.
-Fim da viagem?! Então não nos levas ao posto fronteiriço da Gâmbia?
-Está fechado. Só abre amanhã às sete.
-Fechado?! – Eu e o Brian já aflitos. -E agora?

Estamos em no man’s land e faltam mais de seis horas para abrir a fronteira para podermos entrar na Gâmbia. Alguém nos tenta alugar uns empoeirados e muito usados colchões de espuma para dormirmos num alpendre ali à beira da estrada. As alternativas não são muitas mas, enquanto conferenciamos sobre o que fazer, o condutor da nossa carrinha remata:

-Há um baile esta noite na escola da aldeia. Querem vir?

E é assim que numa quente noite do fim de Agosto, e contra as minhas melhores expectativas, me encontro num verdadeiro e animado baile africano numa aldeia em terra de ninguém. E quem melhor para atracção da festa do que dois brancos com cara de assustados que apareceram ali do nada? As meninas revezam-se a ensinar-nos a dançar e os rapazes fazem fila para conversar connosco. Oferecem-nos Coca-Colas, o DJ dedica-nos músicas e a noite corre animada.

Quando termina o baile ainda faltam quase três horas para abrir a fronteira mas a organizadora do baile, a Sylvie, ciente da nossa situação, oferece-nos abrigo num quarto ao lado da casa da sua família. De manhã a prestável Sylvie acorda-nos e indica-nos o caminho para a fronteira. Aí novo problema. O guarda fronteiriço folheia pacientemente a lista e lá bem no fim encontra Portugal.

-Português precisa de visto! Tem de ir à embaixada em Dakar.
-Mas eu não tenho tempo. Só tenho dois dias para visitar o seu país e se tiver de regressar a Dakar já não dá tempo de voltar. Como é que podemos resolver isso? – Arrisco.
-Impossível. É a lei… Eu até gostava de ajudar, mas muito difícil… – Diz-me, obsequioso.

Alguns euros mais tarde lembra-se que me pode passar uma autorização especial de visita por 48 horas que serve perfeitamente os meus propósitos. E aí estou eu na Gâmbia!

Rapidamente chegamos a Banjul, a capital, e o Brian explica-me sumariamente a cidade. Depositamos as bagagens em casa e ele segue imediatamente para ONG onde já está atrasado para uma reunião. Fico com o dia para conhecer a cidade e os arredores. Calcorreio o mercado, passeio pela cidade, tomo uma bebida junto à praia, visito uma afamada reserva de macacos autóctones, e ao final do dia reencontro o Brian já apressado pois temos de ir a um jantar da ONG americana Peace Corps onde trabalha a namorada e alguns dos seus amigos. Uma casa cheia de americanos, gambianos e eu. Uma refeição vegetariana e umas horas de conversa em várias línguas e dialectos e uma noite bem passada.

No dia seguinte, bem cedo, despedi-me do Brian e iniciei o percurso inverso de regresso ao Senegal para me reencontrar com os meus companheiros que haviam ficado em St. Louis e que me julgavam em Dakar. Ficaram incrédulos quando lhes contei as aventuras dos dias anteriores e até eu estava abismado com tudo o que tinha vivido em tão pouco tempo. 

O regresso a Coruche decorreu sem sobressaltos e a memória desses dias deu-me a certeza que viajar de forma independente era algo que queria repetir. Uns anos mais tarde fi-lo durante 4 meses seguidos…

14 novembro 2009

Popa Falls - Namíbia


Pôr do sol no rio Zambeze - Fronteira Namíbia/Zâmbia


Popa Falls - Namíbia



De canoa nas Popa Falls - Namíbia

Hipopótamos - Rio Okavango - Namíbia


Houvesse mais tempo e o regresso certamente incluiria uma visita à linda região do Delta do rio Okavango – o rio que desagua no deserto - e aos seus Parques Nacionais tão ricos em vida selvagem em estado puro. Mas como tempo não estica o caminho de volta apenas permitiu breves paragens em pontos que haviam sido mapeados na ida.

Logo a zona de Katima Mulilo e a sua ligação ao mítico rio Zambeze que nesta zona ainda se apresenta sereno e ordeiro, não deixando adivinhar a revolução em que se envolve uns quilómetros mais adiante. E o por do sol, neste ambiente africano, é deveras inesquecível.

Depois visitar as Popa Falls. Uma parte em que as águas, até aí calmas, do rio Okavango se encontram com uns acidentes de percurso formando uns revoltos e pitorescos rápidos de água bem branca.

Um pouco mais à frente, quando o rio se acalma de novo, uma comunidade de hipopótamos que passam o dia a banhar-se, sem sequer se importarem com os pescadores em frágeis canoas com quem partilham o rio, atendem pacientemente os raros turistas que os visitam e fotografam avidamente.

Por fim, o regresso de muitos quilómetros pela imensa planície namibiana de volta à fronteira com Angola para, no dia seguinte bem cedo, apanhar o voo de regresso a Luanda e à vida real.

13 novembro 2009

Victoria Falls - Zâmbia


Victoria Falls - Zâmbia


Victoria Falls - Zâmbia

Victoria Falls - Zâmbia

Victoria Falls - Zâmbia


Museu - Cidade de Livingstone - Zâmbia

Em 2000, na minha primeira grande viagem de aventura, fiz um périplo por quatro países da África Austral e um dos pontos altos dessa viagem foi a visita às Victoria Falls do lado do, já à época, instável Zimbabwe. Por isso, para mim tratou-se de um regresso a esta Maravilha Natural com a novidade de desta vez ter chegado pelo lado oposto, ou seja através da Zâmbia.

Entenda-se que as cataratas são as mesmas mas como a fronteira é o rio Zambeze, que naquela zona se alarga por se por mais de 1,5 km antes da vertiginosa queda de mais de 100 metros, resulta que cada um dos dois países possuí metade das cataratas. E ao que parece não há entendimento entre as autoridades das duas nações para facilitar o acesso dos turistas à extensão total das Cataratas. Por isso a maior parte dos visitantes acaba por visitar apenas uma parte ou a outra, como me aconteceu em 2000.

Agora completei o circuito. E como o espectáculo é realmente deslumbrante, desta vez, permiti-me mesmo observá-lo de cima numa viagem de helicóptero que para além de grandes fotos deu para ter uma perspectiva total da grandiosidade do local. Espero que também gostem!

12 novembro 2009

Faixa de Caprivi - Namíbia


Transcaprivi - Namíbia



Macaco na berma da estrada - Namíbia


Elefante tresmalhado - Namíbia

Avestruzes em fuga - Namíbia

Apenas cinco dias para uma viagem de muitos quilómetros e quase nenhuma margem para improvisos. O plano para o primeiro dia era apanhar, bem cedo, o voo interno de Luanda para Ondjiva no extremo sul de Angola, passar a fronteira para a Namíbia, apanhar o carro previamente alugado pela internet na primeira cidade a seguir à fronteira e fazer o máximo de quilómetros na direcção da Faixa de Caprivi. Mesmo com atraso no voo da TAAG ainda foi possível chegar à sossegada cidade de Tsumeb, já bem no coração da Namíbia, para pernoitar.

No dia seguinte bem antes do nascer do sol já o Hyunday Tucson com volante do lado direito estava de novo em marcha para percorrer os quase mil quilómetros até ao objectivo do dia que era chegar às Victoria Falls. Para lá chegar tivemos de atravessar uma das mais míticas estradas do mundo - a Transcaprivi - que percorre toda a Faixa de Caprivi e onde durante boa parte do percurso atravessa uma reserva de animais selvagens em que não é invulgar ter de dar passagem a alguma manada de elefantes, uma família de macacos ou a algum hipopótamo tresmalhado. E não é fantasia pois acabou mesmo por acontecer.

Formalidades fronteiriças efectuadas e a meio da tarde a Zâmbia estava já alcançada. Mais duzentos quilómetros de estrada razoável até à cidade de Livingstone (que serve de base para a visita às Victoria Falls na parte Zambiana) e o objectivo do dia tinha sido cumprido.

11 novembro 2009

Namíbia e Zâmbia 2009


Faixa de Caprivi - Namíbia

Apenas cinco dias de viagem para um itinerário ambicioso. No final foram 2800 kms com passagens pela lendária Faixa de Caprivi e pelas colossais Vitoria Falls (cataratas), encontros imediatos com alguns dos maiores mamíferos do planeta e mais umas quantas histórias para mais tarde recordar.

Brevemente algumas fotos e relatos desses dias intensos neste blog.

30 abril 2009

Andorra a Velha - Andorra



Pistas de esqui- Andorra


Em grande estilo - Andorra


Vista - Andorra


A experimentar o equipamento - Andorra


«Final de Abril ainda com tanta neve nos Picos da Europa! C
ertamente que em Andorra não estará diferente. Porque não ir conhecer o pequeno principado e experimentar as pistas de esqui que tantos turistas de inverno atraem?» - Foi esta convicção que nos moveu, a mim e aos meus companheiros de viagem, para o minúsculo país encravado entre Espanha e França.

E de facto as pistas de esqui ainda estavam abertas, apesar de já com pouco afluência por ser fim de temporada. Por isso tive todo o espaço do mundo para me aventurar pela primeira vez no esqui na neve e logo como auto-didacta. Apesar dos vários trambolhões, para primeira experiência tenho a impressão que até não me saí muito mal. E é uma experiência que, quando tiver oportunidade, quero repetir e aperfeiçoar.

Que Andorra vive essencialmente do turismo de inverno e do comércio franco eu já sabia e pude comprovar. O que eu não sabia é que Andorra vive muito do trabalho de portugueses. Durante os dois dias que lá estive foi um desfilar de compatriotas em tudo quanto era lado. O recepcionista do hotel, português. A senhora da farmácia onde comprei um creme, portuguesa. O dono do restaurante do jantar, português. Os seus clientes, portugueses. A empregada do bar após o jantar, portuguesa. Os clientes da discoteca no final da noite, em grande número portugueses. As senhoras que prepararam o pequeno-almoço do hotel, portuguesas. Difícil não me sentir em casa!

Sei agora que cerca de 25% dos habitantes de Andorra são portugueses e esses certamente percorrem frequentemente os mesmos mil e tantos quilómetros que me trouxeram de regresso a Portugal, após uns dias de agradável evasão.

28 abril 2009

Picos da Europa - Espanha

Vista - Picos da Europa - Espanha



Riacho - Picos da Europa - Espanha

Aldeia de Bulnes - Picos da Europa - Espanha



Seres (uns voam outros rastejam...) - Picos da Europa - Espanha

Dizem que lá para Agosto a rota é mais congestionada do que um carreiro de formigas rumo ao açucareiro. Mas no final do ainda frio mês Abril, quando por lá decidi passar o dia a caminhar, a Ruta Garganta del Cares – o mais popular circuito de trekking dos Picos da Europa - estava confiada a apenas uns quantos recalcitrantes amantes da caminhada na natureza a quem nem a ameaça eminente de chuva dissuadiu.

O caminho sobe e desce, curva e contracurva mas nunca se afasta muito do rio Cares durante os cerca de 9 kms do circuito. E é essa a essencial beleza do percurso que passa por pontes, túneis, desfiladeiros e gargantas aprofundadas pelo rio. A caminhada é considerada de dificuldade média mas os 9 kms transformam-se em 18 km já que o regresso tem de ser pelo mesmo caminho. Como se esta estirada não fosse bastante ainda decidi subir ao remoto povoado de Bulnes. E aqui o trilho apesar de mais curto é bem mais exigente!

Enfim, foram cerca de 10 horas de natureza no seu estado genuíno, ar puro e cândidas paisagens. Calcorrear o coração dos Picos da Europa cansou-me as pernas mas fez-me muito bem ao espírito.

27 abril 2009

Picos da Europa - Espanha

Basílica de Covadonga - Picos da Europa - Espanha



Lago Enol - Picos da Europa - Espanha



Lago Ercina - Picos da Europa - Espanha

O Parque Nacional Picos da Europa, essa singular cordilheira de montanhas que se estende pelas províncias espanholas de Astúrias, Cantábria e Castilla León, foi o destino que se seguiu.

O primeiro dia foi dedicado aos cartões postais do parque. Logo o Santuário de Covadonga erigido como símbolo da Reconquista já que foi algures por aqui que, em 722 DC, os cristãos ganharam a primeira batalha aos muçulmanos, numa tarefa que continuaria pelos 800 anos seguintes. É actualmente local de peregrinação não só pela elegante basílica ao estilo neo-Romanesco característico nas catedrais do centro da Europa mas também por uma Cave – a Santa Cueva – onde a Virgem terá aparecido aos guerreiros antes da histórica batalha. À atenção das moças casadoiras: abaixo da cave fica a Fonte Siete Caños que supostamente assegura casamento no espaço de um ano às meninas que nela beberem.

Depois, subindo uns inclinados 12 kms, naquela que é uma das mais populares e exigentes etapas da volta à Espanha em bicicleta, chega-se à zona dos lagos glaciares de Covadonga. Já acima dos mil metros e com os picos das montanhas cobertos de neve bem à vista dois pitorescos lagos – Lago Enol e Lago Ercina – e um agradável caminho/circuito a ligá-los. Excelente para desentorpecer as pernas!

26 abril 2009

Astúrias - Espanha


Catedral - Oviedo - Espanha


Plaza Mayor - Oviedo - Espanha

Vista - Gijón - Espanha

Da Galiza foi tempo de rumar à histórica província das Astúrias, território a partir do qual se iniciou a reconquista da Península Ibérica à ocupação moura.

Foi "A muito nobre, muito leal, heróica, invicta, benemérita e boa cidade de Oviedo" que me acolheu no meu primeiro dia nas Astúrias. É o lema inscrito no brasão da cidade e eu não tenho nada a opor.

A capital das Astúrias além de todos estes atributos também deixa perceber que oferece aos seus habitantes uma invejável qualidade de vida. Na minha curta estada por lá pouco mais deu para visitar que o seu muito bem cuidado centro histórico e fazer o circuito das Sidrerias pela inevitável Gascona - a avenida da Sidra.

De Oviedo já se avista ao longe aquele que foi o principal motivo da escolha desta zona para esta viagem de uma semana: o Parque Nacional Picos da Europa. Antes apenas uma curta visita à bem cuidada cidade costeira de Gijón e logo o GPS apontou para os Picos da Europa.

25 abril 2009

Galiza - Espanha

Rua no Casco Viejo - Vigo - Espanha


Vista - Corunha - Espanha

Vista - Cabo Finisterra - Espanha


Junto à Catedral - Santiago de Compostela - Espanha


Muitas vezes me perguntam:
- E pela Europa tens viajado muito?
Sempre respondo:
- Nem por isso. A Europa por regra é mais fácil de viajar, por isso posso conhecer quando for mais velhote.

Mas desta vez esta regra virou excepção e acabei por ficar mesmo pela vizinha Espanha com um saltinho a Andorra. A Espanha já tinha ido diversas vezes mas nunca tão a norte. Por isso desta vez o roteiro foi via norte de Portugal em direcção à verdejante província da Galiza.

E por lá fiz um pequeno périplo pelas suas cidades mais importantes. Primeiro por Vigo a maior cidade da Galiza e principal porto pesqueiro da Europa. Depois pela labiríntica cidade da Corunha rodeada de mar por quase todos os lados. A cidade, onde logo ressalta à vista a emblemática Torre / Farol de Hércules, serviu não só de pernoita como para degustar o afamado e altamente recomendado Pulpo a la Gallega.

No dia seguinte uma simbólica passagem pelo Cabo Finisterra (ou Fisterra como também é denominado) onde felizmente já não são visíveis vestígios da trágica passagem, em 2002, do petroleiro Prestige por esta zona.

Por fim a visita à cidade mais famosa e que mais turistas atrai a esta parte de Espanha - Santiago de Compostela. Aqui terminam as suas peregrinações os inúmeros devotos que um pouco por toda a Galiza e não só fui vendo caminhar ao longo da estrada. E a mística da cidade é irremediavelmente marcada por este vai e vem de gente que solitariamente ou em grupo se procura introspeccionar pelos caminhos de Santiago. Para esses a sumptuosa Catedral românica é por isso não só uma meta, como muitas vezes um marco para um novo começo. Para mim, um agnóstico assumido, foi apenas mais uma bela e rica obra eclesiástica.

24 abril 2009

Espanha e Andorra 2009

Picos da Europa - Espanha

Como actualmente a vida não me permite viagens de duração mais extensa vou tendo que me contentar com umas fugidinhas de curta duração.

Foi isso que fiz recentemente quando visitei o norte de Espanha e o Principado de Andorra. Sete escassos dias que ainda assim proporcionaram algumas fotos e aventuras novas que pretendo partilhar brevemente neste blog. Contem com isso...

02 maio 2008

Casablanca e Tânger - Marrocos

Tânger vista do ferry boat - Marrocos

Mesquita Hassan II - Casablanca - Marrocos

A semana estava a terminar e era tempo de começar a recolher a casa. O caminho de volta foi quase sempre feito com o oceano atlântico à vista e houve tempo ainda para uma breve passagem pela maior metrópole de Marrocos, Casablanca com os seus mais de 4 milhões de habitantes. É nesta cidade que se encontra um dos maiores templos islâmicos do mundo, a Mesquita Hassan II. Um enorme complexo, com capacidade para mais de 25.000 fiéis, construido em honra do então rei Hassan II, que seria suposto ficar pronto em 1989 por altura do 60º aniversário do rei, mas que apenas viria a ser inaugurado quatro anos depois.

Continuando para norte, desta vez o local escolhido para atravessar o estreito de Gibaraltar foi Tânger (na vinda, a travessia foi por Ceuta). E Tânger continua fiel ao seu espírito cidade de muitas errâncias. Cidade portuária, fronteiriça e misteriosa que dia a dia vê chegar e partir gente de muitas origens, literalmente. E foi simplesmente para partir que desta vez abordei a cidade. Após uma semana muito bem passada entre gente que, na sua ancestral simplicidade, sabe muito bem receber.

Até um dia destes Marrocos!

01 maio 2008

Safi - Marrocos

Forte português - Safi - Marrocos

Lojas de cerâmica - Safi - Marrocos

Depois da grande conquista da montanha mais alta do norte de África foi tempo de rumar para a costa atlântica. E Safi, uma cidade portuária que vive essencialmente das exportações de pesca e de fosfatos, foi o destino escolhido.

A cidade que durante os séculos XV e XVI foi governada pelos portugueses está cheia de vestígios desse tempo na sua parte antiga. E ao que parece é o governo português que tem financiado as obras de conservação de alguns locais de referência na cidade. Não posso deixar de concordar com esta politica de preservação da nossa história.

Safi é ainda conhecida como a capital da cerâmica artesanal e ao caminhar pelas estreitas ruas da sua Medina não é difícil encontrar artesãos a moldarem o barro das formas e feitios mais variados.

30 abril 2008

Toubkal - Marrocos

A subida - Toubkal - Marrocos


Vista - Toubkal - Marrocos

Eu no topo do Jbel Toubkal - Marrocos

Dia de cume. Era dia de tentar atingir o cume e eu estava bem apreensivo se o conseguiria fazer. Se no primeiro dia a única dificuldade tinham sido as muitas horas de caminhada, já neste segundo dia se avizinhavam desafios bem maiores. O caminho a partir do refúgio até ao cume estava quase todo coberto de neve e a minha experiência a caminhar em neve era praticamente nula. Para agravar a situação estava com uns sapatos que são muito bons para caminhar em terreno seco mas que não são impermeáveis e cuja sola também já não tem a mesma aderência de quando eram novos o que podia ser um problema na neve. Além disso, ao contrário da esmagadora maioria dos outros caminhantes, não tinha nem crampons, nem bastões, nem piolet nem nenhum dos equipamentos específicos para subidas em alta montanha. Numa decisão de última hora consegui que um dos guias de montanha marroquinos me alugasse uns velhos bastões e um piolet que tinha para lá encostados.

Foi talvez esta apreensão, juntamente com uma tosse irritante e o nariz constantemente entupido, que não me deixaram praticamente pregar olho na noite anterior. Mas não havia volta a dar. Já que tinha chegado até ali pelo menos não ia voltar para trás sem tentar. E foi com esse espírito que passo a passo, aprendendo a caminhar na neve e a habituar-me ao meu "novo" equipamento de alta montanha, fui subindo e descansando e subindo e descansando de novo, conquistando metro a metro dos mais de 900 que tinha de subir. E tendo que descansar cada vez mais regularmente à medida que a rarefação de oxigénio se ia fazendo sentir em função da altitude.

Avistar, ainda de longe, a pirâmide que assinala o topo do Jbel Toubkal foi uma alegria e um reforço de energias para o caminho que ainda faltava. Agora já não escapava, estava ali à vista. Por volta das 10:20 da manhã do dia 30 de Abril de 2008, após quatro horas de intensa subida, atingia o cume do Jbel Toubkal a 4.167 metros de altitude! E que vista lá do topo!

Prova superada. Ou quase, porque como diz o maior alpinista português, o João Garcia, chegar ao topo é só metade da conquista pois ainda há o caminho de regresso. E descer pode ser mais rápido mas é igualmente perigoso. Felizmente correu tudo bem e a descida, com algum "skú" pelo meio, decorreu sem grandes sobressaltos.

29 abril 2008

Toubkal - Marrocos

Aldeia no caminho do Jbel Toubkal - Marrocos


A caminho do Jbel Toubkal - Marrocos


Refúgio do Toubkal - Marrocos



Marraquexe estava a ser bom mas o dever chamava. Foi tempo de mudar para Imlil, a pequena vila nas imediações das montanhas do Alto Atlas que serve de base aos caminhantes que pretendem explorar aquela sinuosa região. O Hotel Soleil foi a escolha para pernoitar e essa revelou-se uma decisão bem acertada. O incansável Abdul, para além de todos os esforços para acolher da melhor maneira os hóspedes do hotel que administra, é também um precioso conselheiro para os aventureiros com pouca experiência na arte de subir montanhas como é o meu caso.

Foi baseado nos conselhos do Abdul que, no dia seguinte, eu e os meus companheiros de viagem resolvemos não contratar guia para a caminhada (contrariamente ao que tínhamos planeado), que iniciámos bem pela manhã, e que demorou cerca de seis horas desde Imlil a 1740 metros de altitude até ao refúgio no sopé do Toubkal a cerca de 3.200.

A primeira parte do percurso ainda é feita a coberto das árvores e lado a lado com pequenas povoações que povoam o vale, mas rapidamente o cenário se transforma e, com o Toubkal lá bem no horizonte, o caminho faz-se serpenteando pacientemente as encostas rochosas e empoeiradas onde apenas as cabras encontram vestígios de vegetação. Quando as pernas já reclamam chega por fim o refúgio, que neste caso é sinónimo de comidinha quente e um tecto para descansar. Bem merecidos, diga-se de passagem!

28 abril 2008

Marraquexe - Marrocos

Praça Djemaa el Fna - Marraquexe - Marrocos

Loja de candeeiros no suq - Marraquexe - Marrocos

Marraquexe é a principal atracção turística de Marrocos. E quem já por lá passou certamente que entende bem porquê. A cidade, apesar de estar cada vez mais cosmopolita, emana um certo misticismo que se apega a quem a visita.

E há uma série de rituais que são quase obrigatórios quando se passa por Marraquexe. O primeiro que cumpri foi beber dois copos do revigorante sumo de laranja natural. Depois fui jantar nas bancas de comida que diariamente são montadas na praça Djemaa el Fna e que formam um enorme restaurante ao ar livre muito frequentado tanto por locais como por turistas. Não é o maior banquete do mundo mas faz-nos sentir verdadeiramente em Marrocos.

No dia seguinte houve tempo para percorrer o resto do circuito. Tomar chá numa das esplanadas com vista para a praça, fazer compras bem regateadas no labiríntico suq (mercado tradicional) e apreciar a arte dos acrobatas, contadores de histórias, encantadores de cobras, músicos e outros que tais que ganham e vida naquela que é provavelmente a mais famosa praça de África, a Djemaa el Fna.

27 abril 2008

Cascatas d'Ouzoud - Marrocos

Cascatas d'Ouzoud - Marrocos

Fazendo um pequeno desvio na estrada que liga Fez a Marraquexe podem visitar-se as Cascatas d'Ouzoud. Não são as quedas de água mais extraordinárias que já vi, mas não deixa de ser impressionante ver a água descer abruptamente pelos mais de 100 metros de desnível.

E o caminho pedestre, bem pelo meio das oliveiras, desde o topo das cascatas até à base e de novo de regresso ao topo já serviu para testar as pernas para a caminhada rumo ao Toubkal que viria a ter lugar dois dias depois.

26 abril 2008

Fez - Marrocos


Tinturarias - Fez - Marrocos


Tintureiros - Fez - Marrocos

Com os companheiros de viagem - Fez - Marrocos


A paragem seguinte foi Fez, a mais antiga das cidades imperiais marroquinas, onde já havia estado de passagem mas que não tinha muitas memórias desse dia.

Desta vez tive tempo para visitar a enorme Medina da cidade que para além de ser classificada como património mundial pela UNESCO é também considerada como o maior espaço urbano contínuo livre de carros a nível mundial. E de tão grande e labiríntica que é o mais provável é que mesmo o mais orientado dos turistas se perca lá dentro. Não alheios a este facto estão dezenas de marroquinos poliglotas que fazem fila a oferecerem-se para guiarem a visita... a troco de uns dirhams é claro!

Mas menos mal. Com um guia rapidamente se chega aos pontos de maior interesse da Medina. E de entre eles o destaque vai inteirinho para as tinturarias de peles a céu aberto que funcionam bem no meio do agitado lugar. O cheiro que emanam não é dos melhores e as condições de trabalho dos esforçados tintureiros não são as mais dignas mas nem por isso (ou talvez por isso) este deixa de ser um dos cartões de visita da cidade.